Comemorando duas décadas de carreira em 2012, os irmãos mineiros Victor e Leo percorrem o país para divulgar “Amor de Alma”, seu nono disco. Rondando o topo das rádios brasileiras desde 2006 com hits como “Tem que ser Você”, “Borboletas” e “Boa Sorte pra Você”, a dupla mantém no novo trabalho a combinação de música própria (Victor assina oito faixas) e regravações. Lá estão o clássico do brega “Fuscão Preto”, de Almir Rogério, e “Se Eu Não Puder te Esquecer”, do Moacir Franco, que também se tornou famosa na voz de João Mineiro e Marciano. A mudança de “Amor de Alma” acontece nos palcos. Victor, de 36 anos, e Leo, de 35, decidiram diminuir o ritmo. Nada de carreira internacional nem shows que possam interferir na vida familiar da dupla. “Estávamos muito cansados, sem pique. Resolvemos ficar dois meses parados e agora voltamos com o gás total”, diz Victor. Para os fãs brasileiros, no entanto, a turnê segue firme. Nos dias 15, 16, 17 e 18 de dezembro, os irmãos cantam no Credicard Hall. A dupla sertaneja falou a Época São Paulo sobre disco novo, vida amorosa e carreira internacional.
Qual é a diferença de “Amor de Alma” para os discos anteriores?
Leo: Nos dedicamos muito neste trabalho. Por exemplo, o “Borboletas” foi um disco no qual a gente se dedicou profundamente, mas enquanto gravávamos ele, fazíamos seis shows por semana, era uma loucura. E no mesmo ano, ainda havíamos gravado um disco todo em espanhol. Foi um desgaste que eu não queria ter de novo.
Victor: Nossas férias foram fundamentais para diminuirmos o ritmo. Estávamos muito estafados, cansados, sem pique. Resolvemos ficar dois meses parados. E quando voltamos, parecia que éramos outras pessoas, estávamos com o gás total. A gente se ouvia muito melhor. “Amor de Alma” tem mais gás e é automaticamente mais para cima. Quando você produz e arranja seu próprio trabalho, sai a verdade que está dentro de você no momento. Nos dois últimos discos, tivemos teclado, piano, algumas coisas mais eletrônicas. Este disco é 100% o que a gente faz de melhor: um som mais cru. Não tem guitarra, não tem teclado. Ele é recheado de acordeom, violões, bateria, contrabaixo e percussão, apenas.
Victor: Em quase todos os discos, nós fizemos alguma regravação, com exceção do álbum “Borboletas” (2008), 100% autoral. Em todos os outros trabalhos, regravamos alguma coisa. Por termos cantado muito em bares, durante 15 anos, temos muitas músicas que marcaram nossas vidas, nossas carreiras, que fizeram parte da nossa história e que a gente tem uma relação de amor.
Leo: O que a gente faz num show hoje, pra muita gente, é o mesmo que fazíamos no boteco há 20 anos. Não mudou nada. Muda, claro, a dimensão da coisa, mas para nós é um grande “botecão”. O importante é administrar a forma que você faz a sua arte, sem ficar pensando nos sentidos que a mídia dá para o sucesso. É a forma de manter a sua natureza intacta.
Como está a vida amorosa dos dois?
Leo: Eu sou casado há seis anos, tenho dois filhos e a minha família me ajuda muito. O fato de eu ter filhos e uma esposa que é maravilhosa, uma grande amiga e companheira, ajuda muito. Porque quando você sai de casa e vai para esse mundo de assédio, de vaidade, parece que você sai um pouco de você, fica preocupado o tempo todo no que vai falar, como vai se mostrar. Existe uma responsabilidade muito grande. E quando eu volto, a família me traz de volta à minha realidade.
Victor: Eu estou solteiro.
As fofocas incomodam?
Victor: Nos preocupamos muito com a utilidade do nosso trabalho, que tipo de mensagem o disco vai passar. Nosso público é muito variado e tem uma boa parte infantil. Por isso, não fazemos comercial de cerveja. Nada contra quem faz, mas nos preocupamos com o tipo de mensagem que passamos para as crianças e adolescentes. Falamos de valores éticos, de respeito, de educação e agimos assim no dia a dia, nas entrevistas, nos shows, no cotidiano.
Gravar com a Paula Fernandes foi apenas uma escolha musical?
Leo: Admiramos muito ela, como artista e como pessoa. Nos conhecemos há uns 10 anos, somos amigos, temos um carinho especial um pelo outro. Antes mesmo de estourar, ela mostrou uma música para nós, “Meu Eu em Você”, e perguntou se não queríamos gravar. E claro que gravamos. Tinha tudo a ver com o disco e a gente viu o quanto tínhamos afinidade artística depois disso.
Victor: A única coisa que sempre dizemos é que a palavra sertanejo advém de sertão. Se o cara que canta música dita sertaneja não sabe o que significa sertão, bucolismo, ele não está cantando música sertaneja na sua essência. Talvez ele esteja seguindo a fórmula de uma canção que vendeu muito, com o rótulo sertanejo, e vai fazer isso até esgotar. E, infelizmente, estão misturados esse tipo de música no mesmo balaio de quem sabe o que faz. Eu respeito, só não acho justo. Se você tem conhecimento da essência, você pode transitar por outras influências, sem perder o vínculo.
Leo: Fazemos a música sertaneja, que tem uma tradição de raiz com o país. Nós nunca nos preocupamos em fazer o que o mercado pede ou que está na moda.
Quem são os novos nomes da música brasileira que valem a pena ser escutados?
Leo: Ouço no carro Paula Fernandes, Maria Gadú, mas também volto para as antigas: MPB, música regional , bastante música internacional, rock, principalmente, e folk.
Victor: Alceu Valença, Lulu Santos, Alcione, Zé Ramalho, Renato Teixeira, esses caras ainda estão aí e, às vezes, muita gente não sabe. Por exemplo, você pergunta de quem é “Anunciação”? Respondem: Victor & Leo. Não, ouçam Alceu Valença. Esses artistas podem estar um pouco distante da mídia, mas a nova geração precisa estar a par do trabalho deles. Falo isso porque me preocupo com o exagero de fogos e tecnologia ao vivo que alguns artistas estão utilizando. O importante é a música.
O música brasileira está preparado para o mercado internacional? Como anda a carreira de vocês no exterior?
Leo: Claro, está sim. Tem muita coisa boa acontecendo aqui no Brasil e que merece ir para fora. Nós gravamos um CD em espanhol em 2008. Fomos a Miami, Porto Rico, México, Argentina, Colômbia e iríamos a mais uns 10 países. Aí veio a gripe suína e somado a isso, veio o cansaço, estafa, desgaste, pois a agenda no Brasil não parou. Agora, recentemente, a Sony Internacional tocou nesse assunto novamente, sobre lançar um projeto maior, novo, em espanhol. Mas eles precisariam de uns 100 dias da gente fora do Brasil. Nós não temos isso. Então, temporariamente, estamos abdicando de um trabalho internacional. Recebemos diariamente mensagens do Uruguai, Colômbia, México, para voltar. Futuramente, quem sabe.
Fonte: Revista Época - São Paulo.
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